Como é bom estar vivo, né?
Parecia uma repetição da manhã de 8 de
setembro de 1992, em Natal, Rio Grande do Norte. Mas não era, e tampouco era
uma farsa. Era 1994, e a Legião Urbana estava em Vitória, Espírito santo, para
fazer o show de lançamento de O
descobrimento do Brasil. Fazia outro lindo dia de sol. Dado Villa-Lobos e
Marcelo Bonfá haviam saído para aproveitar a manhã numa fazenda nas vizinhanças
da cidade. Na beira da piscina do hotel, o baixista Gian Fabra estava largado,
lagarteando. Renato Russo acordou e desceu de seu quarto, com uma camisa de
mangas compridas e um livro na mão. Sentou-se ao lado de Gian. Este nunca havia visto à luz do dia. [...] Ficaram os
dois ali, tranqüilos. Mas o dia estava tão bonito que Gian comentou com Renato:
“Como é bom estar vivo, né?”.
Naquele
instante, ele teve certeza de que o outro estava gravemente doente. Sua
expressão ficou tão triste que não deixava margem a dúvidas. Gian tinha sido
convidado para participar da turnê em março, substituindo o falecido Tavinho
Fialho. Nada sabia sobre o estado de saúde de Renato. Não fora informado sobre
isso nem quando, algum tempo depois, alguém lhe dissera que, sim, Renato era
soropositivo. Gian tinha ido checar a informação com dado, mas seu companheiro
de peladas negara tudo, com veemência. Agora, sem querer, o próprio Renato
confirmava tudo, sem ter dito uma palavra.
Fragmento da página 145-146 do livro “Renato Russo: o
trovador solitário”, de Arthur Dapieve.
Responda:
1. O título do texto já antecipa,
para o leitor, qual será o seu foco. Explique qual é esse foco e por que ele
foi escolhido em relação à carreira de Renato Russo.
2. Arthur Dapieve escolhe a
narração e não a exposição como recurso. De que maneira ele introduz o tema da
doença no texto?
3. O uso da narrativa permite
criar uma espécie de antítese entre um parágrafo e outro. Que antítese é essa?
E por que essa estratégia é mais eficaz do que uma exposição mais objetiva?