O romantismo de se
ensinar
Semana passada, li um bom artigo da escritora Lia Luft para a revista
Veja n0 41 da edição 2342, no qual demonstrava sua indignação
com a mediocridade da educação brasileira nos dias de hoje. Claro, quando você pensa em mediocridade na
educação, vem à ponta da língua: educação pública. Mas no tão realista e claro artigo, a
escritora, que também esteve tantos anos em salas de aula, convida-nos a pensar
sobre o que todos já estão vivenciando e deixando passar despercebido, que é o
que chamo de inversão de prioridades. Nessa inversão, o foco da escola passa a
ser, a priori, um espaço de socialização, lazer, namoro, passatempo, para
depois ser lugar de estudo. E aí, cabem também as escolas privadas.
A geração dos celulares com múltiplas
funções e aplicativos – e, que coisa, telefonar mesmo é o que menos se faz! – tem
nesses aparelhos um mundo de informações via satélite. No contraponto disso, o
aproveitamento dessas informações é pífio para seu crescimento intelectual, uma
vez que se tem apenas o trabalho de busca-las, mas não de pensar, de criticar,
comparar. E vemos uma sociedade copista, que apenas reproduz conceitos e
modismos, sem nem saber por quê.
São já comuns as brincadeiras em
redes sociais com pessoas que postam mensagens cujo cuidado gramatical é totalmente
ignorado. Mensagens despreocupadas com as regras da língua escrita, sem a
mínima ideia de que se está abandonando um dos maiores tesouros da nossa
cultura, o nosso idioma. E o pior disso, é que esse abandono não é proposital,
é por não saberem escrever mesmo. Imagine você, que centenas de alunos do
ensino médio não conseguem escrever suas ideias numa página de caderno. Não têm
noção da estrutura de um texto, pontuação, vocabulário, letra maiúscula! E digo
mais, essa população de alunos chega a concluir o ensino médio e a entrar para
a faculdade. Aí, a discussão é sobre os sistemas de ensino e critérios de
aprovação.
No processo em que Lia Luft aponta
como “antieducação”, destacam-se ainda a indisciplina e a falta de apoio das
famílias. Alunos que desacatam livremente seus professores, não trazem de casa
nenhum princípio ou exemplo de respeito, hierarquia, ética. O descaso, portanto,
vai além do ensino público. É geral, percebido por qualquer um que visite uma
escola hoje. E nesse meio caótico, nós, professores, passamos mais tempo
apartando brigas, chamando a atenção dos alunos, sendo agredidos verbalmente,
lutando contra os celulares com músicas altas, gritarias, do que dando aula.
Pois é. Ensinar deixou de ser
romântico. Enquanto isso, pais mais preocupados com o capítulo da novela, com o
resultado do futebol e ganhar dinheiro para o conforto do lar, não têm tempo
para ouvir as lamúrias dos professores, pois a estes cabe mesmo é manter as
crianças ocupadas até tocar o sinal da saída.
Professor Guilherme.