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terça-feira, 24 de julho de 2012

Ler em voz alta


                                    Você ou seu filho só lê murmurando?
                                                                                                Professor Guilherme Bonotto

       É comum, nas aulas em que o professor pede que cada aluno leia em silêncio o texto do livro ou da apostila, que haja alguns que precisem – involuntariamente – pronunciar baixinho o que estão lendo.        Acontece assim também com adultos. Então, vem aquele outro coleguinha do lado e diz: “professor, manda ele (a) ficar quieto!” ou “professor, assim não consigo ler o meu”. Gente, explicarei de forma bem simples. Quando passamos pelo processo de alfabetização, nas séries ou ciclos iniciais, nossa leitura é alfabética, e nem sempre – comum – o aluno entende o que está lendo, pois a memória está focada na tarefa da decodificação. Com o tempo e treino, a decodificação é adquirida e a criança já consegue ter acesso ao significado. Daí em diante, o processo vai se aperfeiçoando, e a exposição gradual a textos faz a criança brincar e dar cambalhotas no maravilhoso campo da semântica.
    O processo de decodificação fonológica ( ler pronunciando o que está lendo ) é essencial para o desenvolvimento da leitura. É nessa fase, por exemplo, que o bom professor identifica a dislexia. Já escutei professora (calma, não era do CEST) dizendo “na minha aula, mando o aluno ler em voz alta para ver se está lendo bem, e corrijo as palavras que ele errar.” Na verdade, quem deve ser corrigida é essa professora, não é? A leitura em voz alta é um exercício fonológico, e não lexical. O aluno necessita de escutar os agrupamentos silábicos, as sílabas mais fortes, as mais fracas, os encontros vocálicos, consonantais e dígrafos. Imagine, nas séries iniciais, a criança estar atenta a tudo isso e uma professora dizer assim: “esse menino leu, mas não compreendeu a mensagem implícita no texto”! Claro, professora! Um estágio de cada vez.
      Então, meu caro amigo internauta, se há pessoas, que até mesmo grandes, pronunciam baixinho o que estão lendo, entre outros motivos, um deles é necessidade mesmo de escutar as palavras, uma herança lá das séries iniciais que ele não largou ainda por pouco ou deficiente treinamento que teve dos seus educadores.

Recomendo: ROTTA, N. T.; OHLWEILER, L.; RIESGO, R. D. S.: Transtornos da aprendizagem – Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. ARTMED, Porto Alegre: 2006.
Recomendo também: www.psicologiaeaprendizagem.com.br      
 Até a próxima!
Professor Guilherme.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

AVALIAÇÃO

       O  final do bimestre já se anuncia, e, nesse período, os alunos começam a fazer suas "contas" para não ficar em recuperação - o que significa uma semana a menos do esperadíssimo recesso de julho. Recuperação, para nossos jovens, e na mente de muitos pais, denota "castigo", "relaxamento", "vingança de professor", no entanto, pouquíssimos alunos veem esse momento como uma releitura, um reforço, uma aplicação a mais para apreender aquele tópico da aula que passou despercebido ou não compreendido. O professor Cipriano Carlos Luckesi, em Avaliação da aprendizagem escolar - 13 ed. Cortez, 2002, p.43 - reforça sobre a prática da avaliação que " [...] terá de ser o instrumento do reconhecimento dos caminhos percorridos e da identificação dos caminhos a serem perseguidos". Garantimos aos nossos jovens que todo trabalho, tarefa, toda participação efetiva que eles tenham nas aulas serão consideradas como critério de "reconhecimento dos caminhos percorridos",  e o julgo da aprovação neste primeiro semestre será pesando sempre a favor do que o aluno construiu nessa sua jornada. Aos meus alunos, não desejo boa sorte, mas BONS ESTUDOS! 
Grande abraço!

sexta-feira, 8 de junho de 2012

REDAÇÃO NOSSA DE CADA DIA.

        Eu sei que aulas de redação têm aquela fama de "aula chata", que a professora convoca a turma para escrever sobre o tema - ou título - por ela mesma convenientemente escolhido. Pega-se um assunto "lugar comum" da tríade violência-adolescência-televisão, joga-se um título bem genérico - como se o aluno pensasse da mesma forma que a professora - e manda-se encher 30 linhas do caderno. "Você só fez 20? Tá errado! Perdeu ponto!" Com você já foi assim? Ora, com muitos de nós foi assim mesmo.
        Por isso, em nossas aulas, os temas escolhidos precisam ser atuais, cotidianos, ricos em pontos de vista e, claro, sempre debatidos coletivamente antes de cada produção individual. O que se explora nessas produções não é somente se o aluno sabe ou não escrever as palavras corretamente - aliás, em minhas aulas e até em avaliações é permitido o dicionário - mas também abre-se o espaço para que ele discorra sobre o que pensa, o que ele entende do mundo que o cerca, e que organize suas ideias em grupos de proposições - chamados de parágrafos. 
       Tudo o que informa, sob o ponto de vista genérico de linguagem, é um texto. Uma foto, uma pintura, um poema, uma placa de trânsito, sinais de libras, "posts" e mensagens de Facebook são exemplos. O texto, portanto, nas nossas aulas de redação, é tratado como veículo de socialização, e transformar pensamento em palavras é um exercício contagiante, emocionante, imperdível!
                                                                                                                                     Professor Guilherme. 

quarta-feira, 6 de junho de 2012

TRABALHO PARA O SÉTIMO ANO


Galera da 701: Vamos treinar o que aprendemos em aula? Classifique os verbos e, se houver, classifique também os objetos.

a) O vento refresca meu rosto.
b) Todos presenciaram o acontecimento.
c) Ninguém previa aquela situação.
d) O diretor já sabe das suas molecagens.
e) Precisamos de mais tempo.
f) O portão está pintado.
g) Todos falaram ao mesmo tempo.
h) Na presença de estranhos choraste?
i) Lutamos contra o mal.
j) Caminhávamos eu e ela de mãos dadas.
k) A cidade continuava deserta.
l) O vento arrancou o telhado da casa.
m) As crianças voltaram do passeio.
n) Desejo sucesso para os novos alunos.
o) Ventava muito naquela noite.
p) Confio em minha capacidade.
q) Anularam o gol?
r) No prato, a sopa esfria.
s) Eu sou forte!
t) Deus acompanhe vocês!
u) Seu Barriga cobrou o aluguel ao Seu Madruga.
v) Ela tornou-se bem atrevida!
w) Conseguiu alguma coisa?
x) Vendi meu apartamento para seu tio.
y) Não gosto da segunda-feira.
z) Muitas frutas havia naquele quintal. 

sábado, 2 de junho de 2012

Trabalho para o terceiro ano






A Lei de Terras de 1850

     Para os colonizadores portugueses, a terra era um bem que existia em abundância, embora só pudesse ser efetivamente ocupada se estivesse “livre” da presença indígena, os donos naturais da terra. A partir de 1500, o rei de Portugal, julgando-se dono da terra, passou a doá-la em forma de sesmarias a quem tivesse condições de explorá-la, geralmente pessoas das classes mais abastadas. Contudo, muitas vezes, após tentativas infrutíferas de ocupação, a terra era abandonada. Assim ela pertencia, de fato, a quem a ocupasse, isto é, ao chamado posseiro.
     Nos primeiros séculos da colonização, as disputas pela posse da terra ocorreram apenas entre os colonos e os indígenas, que foram sendo empurrados cada vez mais para o interior. Muitas terras conquistadas aos indígenas foram distribuídas em forma de sesmarias aos próprios bandeirantes, como pagamento de sua ação destruidora. Para os colonos pobres o acesso à terra só seria possível através da posse, ou seja, pela ocupação.
     Em 1822, foi suspensa a concessão de sesmarias e o direito dos posseiros foi reconhecido, caso as terras estivessem efetivamente cultivadas. Por um curto período, entre 1822 e 1850, a posse foi a única via de acesso à apropriação legítima das terras públicas. Era uma via que estava aberta tanto para os pequenos quanto para os grandes proprietários.
      Essa situação foi drasticamente modificada com a Lei de Terras, de 1850, que tornou a via da posse ilegal. Daí em diante as aquisições de terras públicas só poderiam ocorrer através da compra, ou seja, só poderiam ser adquiridas por aqueles que tivessem condições de pagar por elas. Essa lei ajuda a entender por que o Brasil possui uma extrema concentração de terra, latifúndios improdutivos e uma grande massa de excluídos, os trabalhadores sem terra.
      Um dos objetivos da Lei de Terras foi exatamente impedir que os imigrantes e os trabalhadores brancos pobres, negros libertos e mestiços tivessem acesso à terra. Seu efeito prático foi dificultar a formação de pequenos proprietários e liberar a mão-de-obra para os grandes fazendeiros. Dessa maneira, foi barrado o acesso à terra para a grande maioria do povo brasileiro, que sem opções migrou para os centros urbanos ou tornou-se bóia-fria. Outros continuaram no campo como posseiros, numa situação de ilegalidade, sem direito ao título de propriedade.
TRABALHO:
A questão da terra é assunto polêmico. Complete seus conhecimentos pesquisando em livros, jornais e sites  acerca de movimentos e disputas sobre a propriedade da terra no Brasil. Em seguida, pesquise resenhas sobre a obra Vidas Secas, de Graciliano ramos. Seu trabalho será construir uma redação comparando o contexto das disputas agrárias com o enredo do romance.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

O alfabetizado e o leitor


     qMuito escuto em ambientes informais, entre colegas em reuniões, conversas de pátio, frases do tipo “esse menino não sabe ler”, “essa menina não sabe escrever”, e, no meio de cada hiato, olhares curiosos direcionados aos professores de português. No calor da discussão, aparece aquele clichê: “o problema está na base”. E eu penso... de que base essa máxima se refere? A base, para mim é toda a escola, todo o percurso do educando até a sua formação como indivíduo atuante.
       A consciência da liberdade e o preparo do indivíduo para o mundo partindo da escola é um conceito que Paulo Freire apontou e que centenas de acadêmicos vêm teorizando em monografias. Mas do conceito para a prática há o oceano da ignorância, do descompromisso e da falta de critérios de muitos profissionais da educação. Fica mais fácil apontar a tal “base” como vilã, a terrorista da má formação escolar, eximindo-se da própria culpa, como se pertencesse a um nível superior do ensino. Cabe, neste momento, lembrar a professora Magda Soares, no livro Alfabetização – Brasília: MEC/INEP/COMPED, 2000 – : “É preciso promover a reflexão sobre a crítica para que ela seja compreendida nos usos e nas funções sociais presentes no cotidiano”.
       Soares é ótima quando, na vastidão dos seus textos, discute a diferença entre alfabetização e letramento. A alfabetização é o primeiro encontro com a comunicação escrita; é a formação da identidade do potencial escritor. Um processo germinal, mecânico, motor. É a proposta de uma habilidade que será desenvolvida nas fases seguintes. Letramento já é o processo social, a aquisição da competência linguística como ferramenta de transformação. É na fase de letramento – e essa não se dá em tempo determinado – que a língua se torna veículo de valores, preconceitos, credo, utopias, manifestos e propagação de correntes ideológicas.
       Então, o pai, o professor, o amigo que escutar alguém dizer que “fulano não sabe ler”, deve levar em conta que “ler” é uma habilidade que pode demorar ciclos e até anos para que se tenha o domínio. Há pessoas que são escolarizadas, mas ainda não são letradas, sabia? Decifrar sílabas, palavras, frases, ter boa postura de voz e pronunciar belissimamente as palavras não tem nada a ver com saber ler. Leitor é aquele que entende o que leu, percebeu as entrelinhas, os jogos intertextuais, as mensagens subliminares. Quem, no começo deste texto, disse que aquele menino não sabia ler, talvez ele próprio também não seja tão leitor assim.

domingo, 27 de maio de 2012

O pó, o cascalho e o ouro.


                                                       O PÓ, O CASCALHO E O OURO     
                                                                                            Por: Guilherme Bonotto

        Às vezes, a internet assemelha-se àquele baú que havia em casa de minha avó. Nele, muitas lembranças – umas prazerosas, muitas fúteis – são guardadas, vindo à tona somente naqueles dias de faxina geral. E foi assim, distraidamente, que encontrei algumas recordações de décadas que, verdade, umas nem vivi.
            De passagem por um sítio de vídeos, encontrei, e não pude deixar de fazer download, comerciais de TV das décadas de 50, 60 e 70. Imediatamente, lembrei-me de que estou trabalhando com meus alunos do fundamental a "redação publicitária". Nós, que estamos acostumados a comerciais que exploram o máximo do recurso imagético, ilustrativo, a sensibilidade visual com jogos semânticos intertextuais, esquecemo-nos um pouco do texto em si, da persuasão por meio de palavras, do verbo. De fato, no “princípio era o verbo!”. Herança do rádio, os comerciais eram basicamente falados, apenas mostrava-se o produto e sua utilização, mas era o verbo quem sustentava o argumento. Nesta semana, exibirei algumas pérolas para a turma, e veremos a reação que vai dar.
          Para o ensino médio neste segundo bimestre, mostrarei uma polêmica crônica do jornalista Gilberto Dimenstein, publicada nesses dias no sítio da Folha de S. Paulo, intitulada “O milagre da educação”. Polêmica porque ele diz que “as novas tecnologias ajudam as pessoas, especialmente sem recursos, a ficar mais educadas”. E felicita-se por concluir que “quanto mais esses recursos forem disseminados, mais anos vamos ganhar em nossa educação, onde faltam professores de qualidade, especialmente na rede pública.” Imediatamente, dezenas de internautas manifestaram-se contra a ideia, argumentando que, no Brasil, a educação pela Internet ainda está distante da nossa cultura, uma vez que milhares de adolescentes usam a Rede em busca de relacionamentos, fofocas, jogos e “bate papo”. Além disso, a colocação de que “faltam professores de qualidade na rede pública” é infeliz por ser generalizante.
        Mais sólido foi o artigo “O texto na era digital”, de Edgar Murano, e estará presente em uma das provas do ensino médio. Em passagem, ele diz que “[...] Hoje, com mais de 37 milhões de usuários de internet só no Brasil, essa tradição de escrita parece mais viva do que nunca, impulsionada por novas tecnologias e amplificada pela comunicação em rede. Não é exagero afirmar que e-mails, blogs e redes de relacionamento já deixaram sua marca na produção textual contemporânea.” Este sim, parece mais fundamentado. Mas não estou aqui para desprezar um em detrimento de outro. É justamente na análise, na crítica e na comparação dos argumentos que crescemos como formadores de opinião.
         Pois então, continuo cauto garimpeiro desse espaço virtual, extraindo do aluvião o pó, o cascalho e o ouro.